domingo, 22 de março de 2009

A Igreja e o continente africano

P. Tony NevesBento XVI está de visita a Angola de 20 a 23 de Março, para celebrar solenemente os 500 anos da evangelização deste país lusófono. O mesmo motivo que levou João Paulo II a Angola em 1992.

Segundo o Santo Padre, África «é a grande esperança da Igreja», uma afirmação que serviu de mote ao Luso Fonias de 21 de Março que esteve à conversa sobre "A Igreja e o continente africano".

Em estúdio esteve o P. Tony Neves, Espiritano, que colabora habitualmente no nosso programa e foi missionário em Angola durante vários anos.

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segunda-feira, 16 de março de 2009

Dar: Um Amor Maior

Quando falamos de dar, não nos referimos necessariamente a bens materiais, falamos de pequenos gestos que nos aquecem o coração, o coração de quem dá e o de quem recebe.

Esta acção de "dar" que serviu de mote ao Luso Fonias de 14 de Março, significa na maior parte das vezes um trabalho voluntário, livre e desinteressado, de Eugénio Fonsecaalguém que quer dar um pouco de si, do seu tempo, a quem mais necessita.

Para nos falar deste tema, esteve na nossa companhia o Professor Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa e da Confederação Portuguesa do Voluntariado.




Na opinião do P. Tony Neves:

«O ‘dar de graça’, uma das imagens de marca do Evangelho, continua a ter simpatizantes e seguidores. Uma das formas mais radicais expressa-se no Voluntariado Missionário que, para além da gratuidade da experiência, exige distância das raízes, da família, dos amigos, da segurança construída ao longo dos anos. Mas vale a pena – dizem quantos passam por ele e por ele são profundamente marcados.

Partilho dois exemplos que são recentes: a Joana Pedro, Engenheira do Ambiente, acaba de regressar do norte de Moçambique, onde viveu um ano de Missão; a Céline Marques, licenciada em Serviço Social, regressou há pouco da Guiné-Bissau onde trabalhou um ano em Bafatá. Os seus testemunhos falam alto do que lhes vai na alma.

Escreveu a Joana: ‘Cresci muito. Não foi tanto com o fazer que cresci, mas sim com o estar. Por isso, fiz muita coisa, mas sobretudo estive:

Estive no meio de um povo, o povo macua, que do nada faz tudo, com uma generosidade imensa e com um sorriso constante no rosto. Estive no meio de um povo onde os batuques ditam o ritmo e a genuidade de cada um impera.

Estive no meio de um equipa missionária que me acolheu com um espontaneidade e uma alegria indescritíveis. Estive no meio de uma equipa missionária que me ensinou outra forma de encontrar Deus. Estive onde sinto que Deus me quis. E espero continuar agora a seguir o Seu caminho, certa de que este ano que passei me fará andar mais forte e com mais confiança
’.

A Céline partilhou, á chegada: ‘Muita gente pergunta: porquê? Porquê partir se temos tanto para fazer cá? Porquê partir se a vida está tão má, se a crise é tão grande? Porquê? Porque Deus quer que partamos, Deus precisa de nós noutro lugar, porque talvez lá precisem mais de nós do que aqui, não que aqui não haja problemas, mas porque o nosso sorriso e as nossas mãos farão mais lá do que cá; porque outros foram já chamados e destinados a trabalhar por cá; porque talvez precisemos de ver, viver e trabalhar noutra realidade para aprender a relativizar, aprender outra forma de lidar com os problemas, aprender a ver mais além do que estamos habituados, porque o mundo não é só o sítio onde vivemos, há muito para lá das “fronteiras” de cada um’.»




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domingo, 8 de março de 2009

Pela cooperação no mundo lusófono

Na entrevista do Luso Fonias de 7 de Março estivemos à conversa sobre cooperação no mundo lusófono.

A cooperação para o desenvolvimento é uma prioridade da política externa portuguesa, onde se Catarina Lopesdestacam os valores da solidariedade e do respeito pelos direitos humanos.

Não perca a conversa com Catarina Lopes e a Ana Patrícia Fonseca, da Fundação Evangelização e Culturas, uma organização não governamental para o desenvolvimento que a 13 de Março celebra 19 anos de cooperação no espaço lusófono.



Na opinião do P. Tony Neves:

«A Cooperação entre povos, através dos seus Governos, é um dever e um direito. Aqui, como em tudo, segue-se a máxima segundo a qual ‘ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar nem tão rico que não tenha nada para receber’. A cooperação assente sobre o princípio da partilha onde todos dão e todos recebem. Enfim, a lógica de uma sã cooperação só pode ser o enriquecimento mútuo, com a certeza de que quem ajuda os outros a viver com mais dignidade já se deve sentir recompensado.

Esta deveria ser a lógica do relacionamento fraterno entre povos, mas não é, infelizmente. Estamos num mundo onde as relações internacionais não se constroem sobre a gratuidade e o Ana Patrícia Fonsecaserviço a prestar aos outros, mas sobre o interesse, e só o nosso, mesmo que, para alcançarmos os nossos objectivos tenhamos que esmagar os outros.

Esta lógica em vigor é uma lógica perversa, uma espécie de bomba relógio com retardador, com consequências desastrosas para o futuro da humanidade. Um mundo que se aguenta com uns a tentar gozar a vida à custa do sofrimento e da miséria dos outros, não pode ir muito longe. As lógicas de um capitalismo selvagem só podem conduzir, mais tarde ou mais cedo, a crises como a que hoje se desenha na linha do horizonte e que só terá resolução positiva se as forças do mundo derem as mãos. E não percebo muito bem como tal poderá acontecer.

Aí devem entrar em jogo outro tipo de instituições: as Igrejas, as Organizações não Governamentais e outras entidades filantrópicas, sem fins lucrativos e com um grande sentido de humanidade. Aí, sim, há condições para que um espírito de solidariedade ajude a derrubar muros e construir pontes, fazendo com que se esbatam as distâncias entre ricos e pobres, criando mais justiça social.

Alguém me dizia há dias, ao falar de fundamentalismos religiosos que, com as mesmas pedras se podem construir muros ou pontes. Os meios são os mesmos, mas o resultado final é exactamente o contrário. Assim acontece com os mecanismos de cooperação que se accionam. E há que escolher. A sobrevivência da própria humanidade pode depender da forma como nos relacionamos. Há que trabalhar por mais justiça.»






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Quaresma em tempo de crise

Estamos em tempo de Quaresma, o tempo de preparação para a Páscoa que nos convida à caridade e solidariedade.



O Luso Fonias de 28 de Fevereiro procurou saber como se vive a Quaresma nos dias de hoje, nestes dias em que só se ouve falar de crise.


Maria do Rosário CarneiroNão perca a conversa com a Dra. Maria do Rosário Carneiro, vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, sobre como se vive a Quaresma nos dias de hoje.





Na opinião do P. Tony Neves:


«A Quaresma é um tempo muito especial, desde que tomado a sério. Longe vão os tempos em que os rigores do jejum se mediam pelas refeições que ficavam por tomar, a abstinência não admitia excepções na privação da carne e a esmola era tomada a sério, tentando todas as famílias fazer as suas renúncias quaresmais para partilhar com os muitos pobres que existiam e que todos conheciam. Os tempos que correm assentam noutros princípios de vida e não passam muito por privações, para além daquelas que nos são impostas. Dizem alguns – e com alguma razão – que a crise que vivemos já nos obriga a muito jejum e abstinência. Mas esta maneira de pensar e agir é arriscada, pois não criamos mecanismos que nos obriguem a perceber melhor o quanto sofrem os pobres mais pobres. Mas, verdade seja dita e as estatísticas o mostram, é nos tempos de crise e dificuldade que se vê alma solidária das pessoas. A última grande recolha do Banco Alimentar contra a fome constituiu um hino à solidariedade. Foi a maior recolha de sempre e os meios de comunicação social acompanharam esta operação solidária e entrevistaram muitos dos doadores que afirmaram que não tinham muito mas sentiam esta necessidade de repartir bens essenciais com quem tem ainda menos.

Bento XVI, na sua habitual mensagem da Quaresma, foi buscar uma das passagens bíblicas sobre o retiro espiritual que Cristo fez no deserto. E, segundo este texto tão simbólico, ‘Jesus esteve 40 dias e 40 noites sem comer e no fim teve fome’. Pudera! A riqueza deste texto está no facto de não se falar só de uma fome física, mas também espiritual. Conclui o Papa que a fome de Deus, a fome de Justiça, a fome de humanidade é tão ou mais grave que a fome de pão. Aliás, para estar de acordo com o Papa, basta olhar para o mundo em que vivemos e para as relações entre os povos. As pessoas contam muito pouco porque os bens materiais, os interesses económicos contam muito mais. Chega-se ao limite do ridículo e do imoral quando esmagamos pessoas para ganhar dinheiro, como acontece quando estão em causa os petróleos e diamantes do nosso mundo.

Dar sentido humano à vida é o mais importante neste tempo de Quaresma. São 40 dias intensos de oração, de conversão aos valores do Evangelho, de partilha solidária com quem mais precisa. Vale a pena despir-nos da mentalidade interesseira dos tempos que correm para nos vestirmos de uma humanidade que a todos respeite e que, pela justiça, traga de volta a dignidade a quantos se sentem espezinhados nos seus direitos.»







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terça-feira, 3 de março de 2009

O drama do álcool

“O Drama do Álcool”foi o tema do Luso Fonias de 21 de Fevereiro.

Fala-se de drogas como a cocaína, heroína e até mesmo o tabaco, mas esquecemo-nos que o álcool também faz parte dessa lista de substâncias que causam um elevado grau de dependência.

O álcool é uma droga socialmente aceite cujo consumo tem vindo a aumentar nos últimos anos, consumo este que pode levar-nos a pensar que não tem Alcoólicos Anónimos de Portugalriscos, mas basta olharmos para os efeitos a curto e longo prazo para nos darmos conta da importância dos diversos problemas que produzem.

Não perca os testemunhos da Isabel e do João dos Alcoólicos Anónimos de Portugal, relatos impressionantes de um vício que é socialmente aceite mas que acarreta muitos riscos.



Na opinião do P. Tony Neves:

«Nas voltas que vou dando por esse mundo além, tenho verificado um dado curioso: seja nas montanhas dos índios no México, no planalto interior de Angola, no norte mais distante de Moçambique, junto aos braços de mar mais perdidos da Guiné-Bissau, nas roças mais abandonadas de S. Tomé e Príncipe, nas estepes do Zimbabwe... todos os grupos étnicos sabem fabricar bebidas alcoólicas. E mais: não há festa em que tais líquidos não sejam ingeridos e, regra geral, de forma exagerada, com as consequências que todos conhecemos. Para agravar a situação, há sempre uma franja da população que não precisa das festas para pretexto de ingestão alcoólica. Daí que o mundo esteja semeado de ébrios, uma situação desastrosa que afecta ricos e pobres, homens e mulheres e, por vezes, até adolescentes e crianças.

Regra geral, quando entra o álcool numa casa, a paz e a prosperidade saem pela janela. Ou seja, quem toma álcool em demasia desgraça a sua vida e complica a de quantos vivem próximos, a começar pelos familiares mais directos. E lá se vai o emprego, as poupanças, o equilíbrio de vida, os amigos... e tudo um bom copo de bebida alcoólica deita a perder, gerando desgraça atrás de desgraça, porque, como diz o nosso povo, uma desgraça nunca vem só.

Os tempos modernos, na sua relação com o álcool, não se caracterizam pela coerência. Porque, por um lado, há grandes medidas de combate ao alcoolismo, com regras na sua produção e na sua venda. Mas, por outro lado, a publicidade incentiva ao seu consumo, sobretudo entre as gerações mais jovens. É de fazer doer o coração ir, sexta-feira ou sábado à noite, aos locais onde se concentram os jovens, e ver a quantidade de bebidas alcoólicas que se ingerem. Triste é o cenário que se vê aos sábados e domingos de manhã, nestes mesmos locais, onde encontramos jovens completamente embriagados, depois de uma noite a beber e a dançar... partindo dali para uma ressaca que dura o resto do fim-de-semana...

Há famílias que se desgraçam quando o álcool invade a sua casa. Há tentativas muito sérias de regeneração de quantos entraram nas malhas do álcool. Há organizações, como a associação dos Alcoólicos Anónimos, que fazem alguns milagres. Há departamentos clínicos especializados. Mas há, sobretudo, um longo trabalho de sensibilização a realizar nas escolas e nas Igrejas. Há que investir na formação para o auto-controle, para que cada um e cada uma saibam até onde podem ir, até onde o corpo aguenta sem fazer mal. É um investimento que contraria o lobby da grande indústria alcoólica, mas defende as pessoas que, verdade seja dita, são o melhor do mundo.»




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