segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cooperação e Solidariedade





As Cáritas dos países de língua oficial portuguesa reuniram-se entre 25 de Abril e 2 de Maio na Guiné-Bissau para reflectir sobre o “Combate à Pobreza promovendo a auto-suficiência alimentar”.
Neste Luso Fonias contamos com um debate organizado pela Rádio Sol Mansi, da Guiné Bissau, com representantes das Cáritas de vários países que estiveram presentes neste encontro.










Na opinião do P. Tony Neves:




«Falar de Caridade após a passagem de Bento XVI entre nós, em Portugal, vem sempre a propósito. Aliás, o papa fez questão de colocar o compromisso social dos cristãos como ponto alto da sua agenda. O encontro, em Fátima, com quantos se empenham por um país mais solidário e mais fraterno é prova dessa vontade do Papa estar do lado dos mais pobres, daqueles que merecem ter mais vez e mais voz.
‘Deus é Amor’ é a primeira encíclica de Bento XVI. Para o Papa, o amor a Deus e o amor ao ‘próximo’ constituem um único mandamento e fundem-se no mais pequenino dos humanos. Por isso, Jesus usou parábolas como a do Bom Samaritano, a do Rico e do Pobre Lázaro, ou a do Juízo Final para dizer que o ‘próximo’ é qualquer pessoa que necessite de mim e eu possa ajudá-lo.
O Papa recorda ainda que, no âmbito da solidariedade, há que evitar duas tentações: a de ter soluções humanas e técnicas para tudo e a de cruzar os braços porque não se consegue resolver nada.
‘Caridade na Verdade’ é o documento que Bento XVI dedica a temas sociais. Defende um desenvolvimento humano integral, que atinja todas as pessoas em todas as dimensões do humano. O Papa considera que o subdesenvolvimento depende da responsabilidade humana: resulta da falta de fraternidade entre as pessoas e entre os povos: ‘A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos’. Bento XVI condena o aumento do fosso entre ricos e pobres: ‘cresce a riqueza mundial em termos absolutos, mas aumentam as desigualdades. Nos países ricos, novas categorias sociais empobrecem e nascem novas riquezas’. Há uma denúncia forte à corrupção e ilegalidade presentes no comportamento de sujeitos económicos e políticos dos países, tanto pobres como ricos, insistindo na situação que se vive em certos países mais pobres: ‘(…) alguns gozam duma espécie de superdesenvolvimento dissipador e consumista que contrasta, de modo inadmissível, com perduráveis situações de miséria desumanizadora. Continua o escândalo de desproporções revoltantes’ .
O Papa considera que o aumento maciço da pobreza mina a coesão social e põe em risco a democracia. Há que continuar a investir na aplicação dos princípios tradicionais da ética social: a transparência, a honestidade, a responsabilidade e a gratuidade.

Parabéns á caritas e a quantos fazem da solidariedade um espaço de Missão.»







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sexta-feira, 14 de maio de 2010

A visita do Papa Bento XVI a Portugal




O Santo Padre vai estar em Portugal de 11 a 14 de Maio, passando por Lisboa, Fátima e Porto. Em Fátima vai presidir às celebrações do 13 de Maio, no décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta. Vai também ter encontros especiais com agentes da cultura e da pastoral social. Para nos falar do programa e das expectativas da Igreja Portuguesa para esta visita teremos hoje connosco D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e coordenador da visita de Bento XVI.










Na opinião do P. Tony Neves:




«Estarei lá. Em Lisboa, em Fátima e no Porto. Acompanharei os passos e escutarei as palavras do Papa. Faço parte das largas centenas de jornalistas que terão a missão de amplificar as palavras e os gestos de bento XVI nesta sua primeira visita às terras de Santa Maria.
Acompanhar uma visita papal é uma experiência muito interessante. Para mim, tudo começou no ano 1982 quando em Coimbra, num dia de muito nevoeiro, tive que esperar, ao frio e sem comida, uma noite inteira e uma manhã, pelo Papa João Paulo II que, por causa do mau tempo, chegaria ao Estádio Municipal no dia seguinte ao previsto. Mas ninguém arredou pé e passamos a noite a cantar. Já não recordo das palavras do papa polaco, mas ainda está viva na minha memória a alegria e a festa que todos fizemos na presença de J. Paulo II.
Já como padre e como jornalista, tive o privilégio de acompanhar toda a longa e significativa viagem de J. Paulo II a Angola e S. Tomé em 1992. Tive o privilégio de ser escolhido como comentador da Rádio nacional de Angola e, por isso, tive sempre direito a avião e a jipe em todas as deslocações do Papa. Foi uma festa que, para os angolanos, celebrava a paz, embora, infelizmente, a guerra tenha recomeçado mais tarde.
De regresso á Europa, tive a felicidade de participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Paris, no ano 97. Mais de um milhão de jovens vibraram com a simpatia que J. Paulo II conseguia fazer passar para as novas gerações. Foi um momento forte de encontro, de festa, de celebração da Fé na Cidade Luz.
Voltaria a encontrar J. Paulo II, desta feita já muito debilitado, em Fátima no ano 2000. Ele queria vir cá revelar o terceiro segredo e beatificar a Jacinta e o Francisco. Doía um pouco olhar para aquele homem completamente vergado pela doença, mas dava coragem olhá-lo nos olhos e ver a força com que lutava pela vida e pelo testemunho corajoso do Evangelho.
Nunca encontrei Bento XVI. Esta será a primeira vez que o verei ao vivo. Vem num momento de crise, quer económica quer de valores. Aguardo com expectativa as suas intervenções e os gestos proféticos que venha a fazer. Espero que a sua homilia no Porto dê um empurrão à dimensão missionária de uma Igreja que não pode ficar eternamente a olhar para a história e a dizer que Portugal foi um país muito missionário!

Com Bento XVI, espero que a Missão ganhe força e fôlego em Portugal e no mundo.»







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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ética no Trabalho



Na semana em que comemoramos o Dia do Trabalhador, o Luso Fonias tem como tema a influência da Doutrina Social da Igreja nas relações de trabalho, em especial numa época em que os sacrifícios impostos pela crise económica e pelo alto nível de desemprego colocam a questão do trabalho no topo das preocupações de um grande número de famílias. Para nos falar sobre ética no trabalho, o Luso Fonias conta com a presença do Professor Raul Diniz, Director da AESE – Escola de Direcção e Negócios.










Na opinião do P. Tony Neves:




«O trabalho foi sempre uma dor de cabeça para as sociedades. Diz a Igreja que ele dignifica a pessoa humana, na medida em que a torna aliada de Deus na obra da criação. Com um trabalho digno e que corresponda aos talentos de cada um, a pessoa realiza-se e ajuda a construir um mundo mais desenvolvido e com mais condições para todos viverem com dignidade. E, havendo um salário condigno associado a todos os trabalhos, as pessoas reúnem condições para satisfazerem todas as necessidades básicas e ainda se aventurarem a utilizar o dinheiro que sobra para a cultura, para o lazer, para constituir um fundo de poupança e, claro está, para partilhar com pessoas e instituições que apoiem os mais excluídos das nossas sociedades.
Mas o problema é que hoje são poucas as pessoas e as empresas que olham o trabalho por este prisma. Boa parte do mundo empresarial olha o trabalho como fonte de lucro, por qualquer preço. Daí que se aposte na mão de obra barata e se tente atingir o máximo de produção com um mínimo de custos salariais. Quando as pessoas contam menos que o dinheiro, as lutas sociais tornam-se inevitáveis e cria-se um onda de mal estar social que não beneficia ninguém. Também, da parte de muitos trabalhadores, o mais importante é o salário e não o trabalho, o serviço que se presta à sociedade ou a realização humana que ele traz. Com esta perspectiva, instala-se alguma irresponsabilidade, as pessoas não produzem o que deviam produzir e ninguém se sente feliz neste processo.

Uma radiografia do mundo mostra bem as desigualdades gritantes entre ricos e pobres, entre empregadores e muitos empregados. Em nome da justiça há que continuar a investir em leis e políticas de trabalho que o dignifiquem. E mais: há que dar sentido a esta colaboração preciosa que Deus espera de cada pessoa na continuação da obra da criação. Só quando trabalharmos com este espírito construtivo é que nos sentiremos felizes. E dificilmente pode haver felicidade em sociedades onde os níveis de desemprego são muito altos e onde muita gente não faz a quilo que gosta e não trabalha em áreas da sua competência. Há que criar condições para que cada pessoa faça o que gosta, o que sabe, o que a sociedade pode esperar dela.»







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Liberdade e Desenvolvimento



Na semana em que comemoramos o Dia da Liberdade em Portugal, o Luso Fonias reflecte sobre a importância da liberdade no desenvolvimento dos povos com Joana Rigato, Vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz e professora de Filosofia.










Na opinião do P. Tony Neves:




«Portugal, a 25 de Abril, comemora sempre o dia da Liberdade, pois foi neste dia de 1974 que uma revolução pacífica conclui um tempo marcado pela falta de liberdade e ebriu o caminho a uma verdadeira democracia.
A liberdade é um direito humano, é um bem muito precioso de que só se percebe bem a importância quando não existe. Infelizmente, em muitos pontos da terra, a liberdade só consta nas páginas dos dicionários. São muitos os atentados aos direitos humanos, destacando-se a falta de liberdade religiosa. Escreveu há dias Aristides Neiva, a propósito do Relatório da Ajuda à Igreja que Sofre:
“Não é uma surpresa, mas continua a ser chocante. Entre 75 a 85 por cento das perseguições religiosas em todo o mundo dizem respeito aos cristãos. Quem o diz é a organização “Ajuda à Igreja que Sofre”, no Observatório 2009 da Liberdade Religiosa no Mundo.
É aí que ficamos a saber que a violência e a intolerância contra os cristãos até aumentou no passado. Esta atitude de hostilidade, se no passado vinha sobretudo de regimes com ideologias ateias, actualmente vem de regimes que se apoiam em ideologias baseadas na aceitação de uma única religião, o islamismo em alguns países e o hinduísmo nalguns Estados da Índia.
De facto, se percorremos a geografia onde ocorreu maior agravamento de hostilidade contra os cristãos, somos levados até à Ásia, a países como a Arábia Saudita, Butão, China, Índia, Iraque, Paquistão e Vietname. Em África, os países indicados são a Argélia, o Egipto, a Eritreia e a Somália. Na lista aparecem ainda a Bolívia e a Venezuela’.

E conclui Aristides Neiva: ‘ A hostilidade religiosa, venha de onde vier e dirija-se a quem se dirigir, é sempre um passo atrás no progresso da humanidade e um passo à frente na intolerância e no empobrecimento de uma sociedade. Há Estados que tomam medidas legislativas e administrativas contra os cristãos. Há Estados que tomam medidas legislativas e administrativas contra os muçulmanos. A hostilidade religiosa nunca serviu o progresso da humanidade’.»







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Sacerdócio em Missão


De 18 a 25 de Abril celebra-se a Semana das Vocações. O exemplo de quem dedica a vida a Deus e aos irmãos, com alegria e fidelidade, é semente de novas vocações.

Para nos dar o testemunho da sua vida de sacerdócio, com 26 anos em missão em Moçambique, o Luso Fonias conta com a participação do Padre Norberto Louro, Provincial dos Missionários da Consolata.










Na opinião do P. Tony Neves:




«O Damasceno, o Raul e o Elson têm duas coisas em comum: são Espiritanos e vivem em Itoculo, no norte interior de Moçambique. Mas não estão só nesta missão difícil: partilham-na com as Espiritanas e com dezenas de Leigos comprometidos com as suas Comunidades. A pobreza é muita, mas a vontade de construir futuro é bem maior. Foi lá neste extremo norte de Moçambique que vivi a minha Páscoa 2010.
Itoculo foi vila importante no tempo colonial. A guerra passou por ali e deixou um rasto de destruição, lançando o povo na mais terrível das misérias. Hoje, o centro parece ainda uma vila fantasma, com muitas casas destruídas, embora tenha sido uma das localidades escolhidas para ‘vila do milénio’, com apoio do Japão.
Os Padres e as Irmãs apostam sobretudo na formação dos líderes destes ‘ministérios’, visitando as comunidades e acolhendo-os no Centro Pastoral S. Francisco Xavier que foi construído em Itoculo. Lá se ministram cursos de 15 dias, uma semana ou um fim se semana para capacitar os líderes. As celebrações da Eucaristia e dos outros Sacramentos fazem-se em diversas capelas da vasta extensão da Paróquia / Missão, ou, muitas vezes, debaixo de mangueiras e cajueiros.
Ao olhar para o Plano de Pastoral da Paróquia, é impressionante ver o itinerário que pretende percorrer em 2010, com muitas acções a implementar. Estão previstas acções de formação para o Conselho Paroquial, os Anciãos das Comunidades, os Jovens, a Catequese, as Famílias, os Animadores Vocacionais, a Infância Missionária, a Justiça e Paz, as Escolas Comunitárias, a Ajuda Fraterna, as Mamãs, a Saúde, o Ecumenismo, a Comunicação Social, o Grupo Coral.

Vivi lá a Semana Santa e a Páscoa. Acompanhei os Missionários nas visitas às Comunidades onde celebraram a Ceia do Senhor, a Paixão, a Vigília Pascal e o Domingo de Páscoa. Cerimónias longas e muito participadas, sempre celebradas debaixo de enormes cajueiros, Igrejas ao ar livre onde se louva a Deus na simplicidade e na pobreza.»







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Os Ciganos: uma vida em caminho


Na passada Quinta-feira, dia 8 de Abril, celebrámos o Dia Internacional dos Ciganos. Portadores de uma cultura e tradições muito antigas, os ciganos continuam a ser muitos vezes excluídos e colocados de parte na nossa sociedade.

Para compreendermos o seu modo de vida e lançarmos desafios e caminhos de comunhão, o Luso Fonias conta com a participação do Responsável Nacional da Obra da Pastoral dos Ciganos, Frei Francisco Sales.












Na opinião do P. Tony Neves:




«O Dia Mundial dos Ciganos celebrou-se a 8 de Abril. Sempre que há um dia mundial de qualquer coisa é sinal de que algo ainda não está muito bem assumido. Neste caso, a celebração reveste-se de uma particular importância porque este povo tem características culturais muito próprias. As tradições étnicas dos ciganos tornaram-nos, ao longo dos tempos, um grupo excluído, porque dificilmente se tem enquadrado nos sistemas sociais dos países europeus onde vivem.
Cresci num ambiente social onde os ciganos eram vistos com suspeição. A ameaça de ‘chamar um cigano’, levava as crianças a mudar de comportamento e a fazer o que os mais velhos estavam a mandar. Chamar a alguém ‘cigano’ não era, propriamente um elogio. Era uma palavra que traduzia falta de seriedade, aldrabice.
Quando numa sociedade os grupos étnicos ficam á margem, a culpa pode estar em ambos os lados. Um esforço de aproximação e comunhão (não quero usar a palavra ‘integração’, pois acho que a ‘comunhão está mais correcta) implica caminhar juntos, derrubar preconceitos e mudar de atitudes. Sim, há conversões a fazer, de parte a parte. E mais: há que questionar algumas formas de estar na vida e de intervir socialmente. De um lado e do outro há aspectos a melhorar. E, se houver mais encontro e mais partilha, é inevitável a aproximação. O derrube dos preconceitos só pode acontecer se todos ouvirem mais e julgarem menos. E, sobretudo, de todos ousarem partilhar a vida e a história.

O valor da família alargada e da defesa do património histórico e cultural é algo que os ciganos podem dar aos outros grupos humanos. O abandonar certas posturas sociais que fragilizam a etnia vai ajudar a criar mais laços com o resto da comunidade. Se todos podem beneficiar da riqueza histórica e cultural de todos, porque perdemos esta oportunidade de crescer e de nos enriquecermos mutuamente?»







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João Paulo II e Bento XVI: os Papas do nosso tempo



Nas vésperas da visita do Papa Bento XVI a Portugal e recordando também o pontificado do Papa João Paulo II que faleceu à cinco anos, o Luso Fonias procura compreender qual a importância destes dois Papas para os nossos dias. Diferentes na personalidade e nos problemas que tiveram que enfrentar, estes dois Papas partilham a mesma missão de conduzir a Igreja de acordo com o Evangelho.

Para nos falar sobre estes dois pontificados, o programa conta com o testemunho da jornalista Aura Miguel.










Na opinião do P. Tony Neves:




«João Paulo II chegou a Roma como uma lufada de ar fresco. Era o Papa que veio de longe, que veio de um Leste da Europa onde a Igreja era maltratada e o povo esquecido. Ajudou a derrubar o Muro de Berlim que separava a Europa Capitalista da Europa Comunista, ajudando a unificar um continente fracturado pela história triste que foi a segunda grande guerra mundial.
Era um Papa jovem, desportista, artista, comunicador nato. Abriu as portas do Vaticano e saiu á rua, passeando pelo mundo a sua alegria contagiante, o seu poder de cativar os jovens, a sua vontade de promover e defender os direitos humanos, a sua luta sem tréguas contra a falta de liberdade e a pobreza que vitima tantos milhões de jovens. E assim, ano após ano, lá foi dando a volta ao mundo como peregrino da paz e mensageiro da esperança. Não ganhou o Prémio Nobel da Paz, mas fez muito por ela. Recebeu os líderes de muitos países do mundo, foi uma voz escutada, condenou todas as guerras, levantou-se contra a injustiça de um mundo onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
A sua paixão foi os jovens. Os encontros nas Jornadas Mundiais da Juventude fizeram convergir para lá milhões de jovens, idos dos quatro cantos da terra. A força da sua palavra, a simpatia da sua comunicação, o símbolo da sua presença... tudo isto marcou muito as novas gerações que o não esquecem. Foi ele quem disse um dia que ‘a Igreja só será jovem quando os jovens forem Igreja’.
Vimo-lo doente, cansado, quase fisicamente incapacitado, a virar o século e o milénio. Não se deixou vergar pelos limites da saúde e da idade e quis cumprir a sua missão até ao fim. Muitos o contestaram e outros tantos o elogiaram por esta opção. Mas, verdade seja dita, desde os tempos de jovem cristão perseguido na Polónia, o perfil de Karol Wojtila era o de alguém que dava tudo o que tinha e o que era pelas suas convicções mais profundas.

Partiu. Os Cardeais, em conclave, decidiram eleger Bento XVI, outrora braço direito de J. Paulo II. Esta eleição parece ser mais um prémio para o Papa Wojtila que um mérito pessoal do cardeal Ratzinger. O importante é que a Igreja seja cada vez mais livre e comprometida com a causa dos mais pobres e oprimidos.»







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Artes Circenses e Fé



Na semana em que se comemora o Dia Internacional do Teatro e do Circo, vamos conversar sobre a ligação entre estas artes de palco e a transmissão da Fé.

Para isso, contamos hoje com a participação do Pe. João Carlos Tavares, pároco da Moita e também ilusionista e malabarista.










Na opinião do P. Tony Neves:




«A Igreja, ao longo dos séculos, sempre foi muito criativa na forma de anunciar o Evangelho e os valores gravados nas suas páginas. Não foi original porque se limitou a seguir nas peugadas do seu Mestre: Jesus Cristo foi um verdadeiro artista, contador de histórias, protagonista de eventos mobilizadores de povo. A arquitectura, a pintura, a escultura, as artes dramáticas, a música, a dança, a literatura ... tudo serviu de base ao anúncio das convicções e valores que constituem o património da Igreja.
Dois mil anos depois de Cristo, a arte continua a caminhar de mãos dadas com a Missão da Igreja. Queria partilhar duas situações onde senti isso com muita clareza. Durante os cinco encontros do Congresso Internacional para a Nova Evangelização (em Viena, Paris, Lisboa, Bruxelas e Budapeste), foram muitos os artistas que se associaram ao evento. Nos palcos, a mensagem cristã passou pelos concertos musicais, pela dança, pelo teatro. Artistas profissionais e amadores traduziram em gestos artísticos os valores que a Igreja tenta testemunhar e propor às pessoas do nosso tempo. Falei da Europa, falo agora de África. Há dois anos, no sul de Angola, participei no Capítulo Provincial dos Espiritanos, no Lubango. A paróquia de Nossa Senhora das Dores presenteou os participantes com um teatro que foi construído para andar de escola em escola, de comunidade em comunidade, a falar da mensagem cristã, a propor mais justiça social, mais seriedade no trabalho, mais respeito pela escola, mais fraternidade e entreajuda e a ridicularizar a preguiça, o roubo, a droga, o álcool, a irresponsabilidade sexual, o recurso à feitiçaria e outros aspectos que estavam a prejudicar a vida das pessoas. Foi um momento cultural fantástico, em que percebi bem as mensagens transmitidas e que, de forma lúdica, ajudam as pessoas a interiorizar valores e mudar comportamentos.

Não faz sentido pensar que basta saber as verdades da fé e dizê-las do altar abaixo. Há que escolher novos espaços e novos métodos para que outras pessoas escutem e se sintam motivadas a reflectir sobre a vida, alterando posturas e compromissos. Evangelizar de forma criativa é hoje uma questão de vida ou de morte para a Igreja. Há que tomar isto a sério. Não será também por isso que o papa bento XVI, na sua visita a Portugal, vai ter um encontro com personalidades do mundo da Cultura»







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A Poesia - Realidade e Criatividade


O Dia Mundial da Poesia foi instituído pela UNESCO em 2000 e é comemorado a 21 de Março de cada ano. A poesia é uma arte, através da qual a linguagem é utilizada para fins estéticos, como expressão daquilo que somos e que sentimos.

Para nos falar de poesia, o Luso Fonias conta com a participação do Pe. José Tolentino de Mendonça.










Na opinião do P. Tony Neves:




«Estamos na Quaresma, um tempo em que a poesia fala melhor sobre esta caminhada interior que nos conduz à manhã da Páscoa. Por isso, vou dar a voz ao P. Tolentino, biblista e poeta que escreveu um texto fantástico sobre este tempo que vivemos e os desafios que nos lança:

A Quaresma é o contrário daquilo que, às vezes, se faz passar. Uma estação tristonha e austera, onde predominam as privações e os jejuns soturnos, que ninguém nos explica de modo satisfatório. Uma quadra lilás, cheia de imperativos que nos roem por dentro, mais como uma remorso do que uma sementeira de alegria.
A Quaresma é o contrário disso. Quaresma sugere palavras vivas: conversão, reconciliação, renascimento...Quaresma é a primavera que Deus oferece à Igreja, para que todos acordemos da paralisia dos nossos invernos interiores e desatemos a florir.
Quaresma é redescobrir a juventude com uma energia que trazemos na alma, a possibilidade real de recomeçar, de ser melhor outra vez e ainda outra vez. Não é um ritual de ano a ano, é um abanão ao nosso modo de viver, para que nos desinstalemos e compreendamos que Deus não nos quer amarrados a uma ‘vidinha’ que não reflecte nada de grade ou apreciável: nem Amor, nem, justiça, nem esperança.
A Quaresma é, assim, uma aposta divina nas nossas histórias humanas, ás vezes demasiado humanas.
E por ser tão importante não é uma receita, é uma proposta de caminho(...).
Estamos em construção!
Às vezes enchemo-nos de coisas supérfluas que só atravancam. Falsos projectos, muitos preconceitos, críticas fáceis, invejas, orgulho, egoísmo qb. E terminamos como um joguete nas mãos das nossas emoções mais superficiais. (...).
Tudo isto seria um caminho terrivelmente intimista se não nos mandasse ao encontro dos outros.
A esmola (uma partilha material e espiritual) tem de ser uma aliança e um compromisso, mais do que um acto pontual. Passa a ser a nossa atitude, seguindo o estilo do nosso Mestre que ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida’.

Obrigado, P. Tolentino pela sua poesia que nos ajuda a perceber melhor os mistérios de Deus e da vida.»







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Os 20 Anos da FEC


A FEC comemora duas décadas de cooperação entre povos lusófonos. Uma experiência que começou na comemoração dos cinco séculos de encontro de culturas e que depois se foi traduzindo em projectos que promovem a educação e a saúde, passando também pelas actividades dos grupos de voluntariado missionário e pela partilha entre rádios dos vários países onde se fala o português.


Para nos falar do passado e do futuro da FEC, o Luso Fonias conta com a participação do Pe. José Cachadinha, fundador da FEC, e de Susana Réfega, actual Directora Executiva da FEC.










Na opinião do P. Tony Neves:




«A Fundação Evangelização e Culturas foi, há 20 anos, uma lufada de ar fresco na Igreja e na sociedade em Portugal. Nasceu da festa que foi a celebração dos 500 anos do encontro de povos e culturas. Logo que se viu que esta onda não podia desfazer-se na areia da praia dos tempos que correm, mas que havia valores a perpetuar, laços a manter e aprofundar, compromissos solidários a levar por diante. E assim a FEC foi ganhando terreno, competência e crédito, investindo hoje em muitas frentes, lá onde a solidariedade anda de braço dado com um desenvolvimento humano e sustentável.
É bom ter memória e ter sentido de gratidão. O trabalho, muitas vezes discreto, que a Fundação Evangelização e Culturas vai fazendo em Portugal e por essa lusofonia fora, é meritório.
Com o andar dos tempos, a FEC aventurou-se em novas e ousadas iniciativas como a da coordenação da plataforma das Igrejas lusófonas, que tem permitido aos Bispos dos países que falam português encontrar-se e definir algumas estratégias comuns.
O mundo da rádio também foi invadido pela FEC e a duração e crédito deste programa é, se calhar, o dado objectivo mais evidente.
O investimento na educação é reconhecido à FEC, sobretudo na formação de professores na Guiné e em Angola.
Nos últimos anos, uma aposta ganha é a da gestão da plataforma do Voluntariado Missionário que congrega 40 instituições que preparam, enviam e acolhem leigos missionários. O programa de preparação conjunta é gerido pela FEC.
Para que a solidariedade seja mais efectiva, o Natal é pretexto para a campanha dos Presentes Solidários, que nos últimos anos, permitiu apoiar projectos de solidariedade e desenvolvimento em todos os países do espaço lusófono.

Se é verdade que o livro da FEC já tem muitas páginas escritas, boa parte ainda está em branco. Será escrito com o compromisso de muitos que, em nome da Fé e da Humanidade, vão querer ajudar o mundo lusófono a ser mais humano e mais fraterno. Tudo em nome de um desenvolvimento muito humano. Parabéns.»







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O Papel da Mulher para o Desenvolvimento

Esta edição do Luso Fonias tem como tema o papel da mulher no desenvolvimento, na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.

Para contrariar as desigualdades entre mulheres e homens, muitos projectos de desenvolvimento apostam na capacitação das mulheres como agentes de mudança e a experiência prova que as mulheres podem ter uma intervenção muito eficaz no desenvolvimento das comunidades locais. Uma das associações que promove o papel da mulher na sociedade é o Graal, um movimento internacional de mulheres com presença em Portugal há mais de 50 anos.

Para nos falar da história e dos projectos do Graal, contamos com a participação da Dra. Teresinha Tavares, membro do Graal com vasta experiência em projectos de cooperação.









Na opinião do P. Tony Neves:




«O mundo celebra, neste 8 de Março, o dia internacional da mulher. Voltando os olhos para África, todos os jornais e revistas da imprensa missionária portuguesa, publicam neste mês de Março um artigo da Irmã Elisabeth carrilho, Missionária comboniana, sobre a Mulher africana, semente de reconciliação. Permito-me a escolha de alguns extractos:
‘A mulher na África é uma vasilha onde se deposita água viva, tesoiros, fantasias, magia, mistérios, sentimentos, deuses e anti-deuses.
Ela é só a Semente de ternura, de sensualidade, de optimismo, de fé, de amor, de seus predecessores; a sua tarefa é crescer e fortalecer a sua comunidade. Transmitir uma serie de sentimentos, emoções e o poder depositado em si aos seus filhos e filhas. È daqui que brota a sua resistência, a sua vocação, o seu ministério para com o seu clã, para com os seus antepassados e para com Deus.
A falta de formação das mulheres em África, tem sido uma das preocupações dos Bispos africanos, manifestadas, entre outros, no Sínodo de Outubro do ano 2009. A mulher africana, considerada por estes como a “espinha dorsal da Igreja local” e força do apostolado, requer uma formação íntegra que possa melhorar a sua contribuição, tornando-a reconhecida e valorizada. Só assim é que as mulheres africanas se vão poder constituir agentes de transformação social e eclesial.
Os Bispos constataram que sem a participação activa e consciente da mulher africana todo caminho feito a favor da reconciliação para promover a justiça e a paz no continente não terá efeito. O lançamento do desafio às mulheres católicas deste continente para se envolverem nos programas feitos a favor das suas irmãs africanas constitui-se como exemplo de resposta a esta necessidade.

Até hoje, a mulher em África não teve (nem tem) a possibilidade de uma formação sólida e actual, apesar da vocação e do ministério que a movem na procura de caminhos novos para as gerações do futuro. Em tudo isto, elas são modelo de constância, perseverança e tolerância. As situações de injustiça e violência vividas por si próprias e com os seus não as têm derrotado. Pelo contrário, têm-nas tornado mais fortes à defesa da vida e da sua família'.»








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Economia e Solidariedade



Na opinião do P. Tony Neves:




«Portugal vive momentos dramáticos com a tragédia que desabou sobre o povo da Ilha da Madeira. Foi uma catástrofe natural com consequências desastrosas para uma parte significativa das populações, sobretudo as mais pobres. Como sempre, os indicadores económicos mostram que as franjas mais desfavorecidas das sociedades são as maiores vítimas em situação de tragédia. A Madeira não é excepção e é verdade que quando as casas são de construção mais pobre as enxurradas derrubam-nas mais depressa.
Também é verdade que uma economia mais sólida e organizada tem condições para responder mais depressa nestes casos de drama social. O terramoto no Haiti provou ao mundo que o caos que lá se vivia prolongou-se a agudizou-se nos dias seguintes à tragédia. O mesmo terramoto em Paris, Londres ou Nova Iorque teria consequências bem menores e resposta bem mais rápida e eficaz. Mais uma vez se prova que a fragilidade de uma economia é fatal para a activação dos dinamismos de solidariedade em caso de urgência.
Mas há mais coisas a dizer sobre esta relação difícil entre economia e solidariedade. A justiça social tem de estar presente nas lógicas de organização e funcionamento da economia. Quando, numa sociedade, alguns têm quase tudo e a maioria não tem quase nada, a solidariedade torna-se palavra oca de dicionário. Nestes casos, mais dia menos dia, instala-se uma luta social que pode degenerar até numa guerra civil. Há que assentar as bases da economia nos direitos humanos. A destinação universal dos bens da criação deveria ser a regra a presidir à distribuição dos bens pelo povo. Ninguém deve achar que tem direito de possuir mundos e fundos, quando os outros vivem na mais cruel das misérias.

Conhecimento do mundo não nos falta. Estudos académicos para perceber como organizar a economia das sociedades, também os temos de sobra. Faltará, talvez, a coragem política e o sentido de responsabilidade humana que levem os fazedores e executantes das leis a construir uma sociedade mais justa e mais fraterna. Só assim a palavra solidariedade sairá da letra morto dos dicionários.»








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Luso Fonias: 500 emissões de partilha

Num mundo onde a comunicação é cada vez mais global, a rádio continua a ocupar um lugar de destaque na partilha e transmissão da cultura bem como no encontro entre diferentes povos e tradições. Nas zonas mais isoladas dos países menos desenvolvidos, a rádio é o único meio por onde chegam as informações mais actuais.

Para nos falar sobre a importância da rádio para o desenvolvimento e também celebrar as 500 emissões do Luso Fonias, contámos com a participação da Cátia Vieira, antiga editora e produtora deste programa.






Na opinião do P. Tony Neves:



«O programa Luso-fonias, sucessor do Igreja Lusófona, está imparável. E, todos somados, já lá vão 520 semanas de emissão. Quando, em Luanda, intervim no Congresso que comemorou os 50 anos da Rádio Ecclesia, tentei explicar a importância da Missão que se faz pelas ondas radiofónicas. Apontei, no auditório da Universidade Católica, 16 desafios. Destaco agora alguns. 1. a democratização da informação, informando com a objectividade possível; 3. Formar os ouvintes para valores humanos e cristãos, de modo a que se tornem cidadãos mais responsáveis e, por isso mesmo, menos manipuláveis; 4. ajudar a cimentar a paz e a criar uma cultura de perdão e reconciliação; 6. Amplificar os princípios sociais da Igreja; 8. Dar grande lugar ao anúncio dos direitos humanos e à denúncia das suas violações; 9. ajudar a construir uma sociedade onde os cidadãos contem, onde a liberdade e a democracia não sejam palavras de dicionário; 10. Dar voz às populações que querem ver amplificados os seus gritos contra as injustiças de que são vítimas; 11. Incentivar a escolarização e o acesso das populações á cultura e às novas tecnologias; 13. ajudar a combater as pandemias e a universalizar os cuidados básicos de saúde; 14. elevar o nível cultural do povo, pelos temas aprofundados, pelos debates realizados, pela música e outras formas de expressão cultural. 15. Realizar parcerias com organizações não governamentais e outras instituições que trabalhem pelo desenvolvimento integral das pessoas.

Enfim, estes foram alguns desafios que lancei em Luanda, mas que poderia e deveria lançá-los em todo o mundo. A Rádio deve amplificar o grito dos pobres cujas vozes só falam em surdina e as autoridades parecem não ouvir.
E por estas e outras razões que existe o Luso-Fonias. É por estes e outros desafios que faz sentido que ele continue no ar. E vai continuar enquanto a sua voz fizer falta à lusofonia.»






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