quarta-feira, 5 de maio de 2010

Economia e Solidariedade



Na opinião do P. Tony Neves:




«Portugal vive momentos dramáticos com a tragédia que desabou sobre o povo da Ilha da Madeira. Foi uma catástrofe natural com consequências desastrosas para uma parte significativa das populações, sobretudo as mais pobres. Como sempre, os indicadores económicos mostram que as franjas mais desfavorecidas das sociedades são as maiores vítimas em situação de tragédia. A Madeira não é excepção e é verdade que quando as casas são de construção mais pobre as enxurradas derrubam-nas mais depressa.
Também é verdade que uma economia mais sólida e organizada tem condições para responder mais depressa nestes casos de drama social. O terramoto no Haiti provou ao mundo que o caos que lá se vivia prolongou-se a agudizou-se nos dias seguintes à tragédia. O mesmo terramoto em Paris, Londres ou Nova Iorque teria consequências bem menores e resposta bem mais rápida e eficaz. Mais uma vez se prova que a fragilidade de uma economia é fatal para a activação dos dinamismos de solidariedade em caso de urgência.
Mas há mais coisas a dizer sobre esta relação difícil entre economia e solidariedade. A justiça social tem de estar presente nas lógicas de organização e funcionamento da economia. Quando, numa sociedade, alguns têm quase tudo e a maioria não tem quase nada, a solidariedade torna-se palavra oca de dicionário. Nestes casos, mais dia menos dia, instala-se uma luta social que pode degenerar até numa guerra civil. Há que assentar as bases da economia nos direitos humanos. A destinação universal dos bens da criação deveria ser a regra a presidir à distribuição dos bens pelo povo. Ninguém deve achar que tem direito de possuir mundos e fundos, quando os outros vivem na mais cruel das misérias.

Conhecimento do mundo não nos falta. Estudos académicos para perceber como organizar a economia das sociedades, também os temos de sobra. Faltará, talvez, a coragem política e o sentido de responsabilidade humana que levem os fazedores e executantes das leis a construir uma sociedade mais justa e mais fraterna. Só assim a palavra solidariedade sairá da letra morto dos dicionários.»








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