sábado, 28 de agosto de 2010

A Guerra: Motivos e Consequências


Na semana em que passam 71 anos sobre o início da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais sangrento da História, vamos ter a experiência de um jornalista que tem investigado a história recente do mundo lusófono, em particular a guerra colonial e os movimentos de independência dos países africanos de língua portuguesa.
Para nos falar sobre a sua experiência de jornalismo de investigação, o Luso Fonias conta com a presença de José Pedro Castanheira.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Sempre que falo de guerra eu fico mal disposto. Para mim, ela nunca fará qualquer sentido e constitui sempre uma violação frontal dos direitos humanos. Inventem lá as teorias que quiserem, mas quem viveu intensamente uma guerra, sabe que ela não só não resolve os problemas como ainda os agrava. E mais: nas guerras, as grandes vítimas são sempre as pessoas que nada têm a ver com o assunto. Os senhores que as promovem ficam a beber os seus wiskies sossegados nos seus palácios, enquanto os militares, forçados a combater, se transformam em carne de canhão, nas linhas da frente dos combates. E pior que isso: as populações civis são mortas, deslocadas, violadas, privadas das suas casas, dos seus campos, dos seus empregos, maltratadas e perseguidas. As crianças ficam sem escola, os doentes sem hospitais... um mar de tragédias que, só quem não viveu uma guerra do lado das vítimas, pode apoiar.
Mas a verdade é que, se em teoria todos dizem que a guerra é terrível, na prática é a ela que os governos e oposições armadas recorrem para resolver os problemas, sacrificando as populações indefesas, arrastando os países para a bancarrota económica, gerando dívidas que as gerações posteriores terão dificuldades em pagar.
Sofri na carne a crueldade e a barbaridade da grande batalha que arrasou o Huambo em 1993. Muito do que vivi nunca contarei a ninguém, mas há dramas indescritíveis que são provocados pelos senhores das guerras e que mostram que o sentido humano das decisões e atitudes está muitas vezes ausente do coração de certas pessoas.
A II Grande Guerra Mundial começou a 1 de Setembro de 1939. No fim, criou-se a ONU para que a barbaridade da guerra não voltasse a fazer das suas. Mas a memória continuou curta e o recurso á guerra manteve-se até hoje. Milhões de pessoas, nos últimos anos, foram mortas, feridas, refugiadas, espoliadas de todos os seus bens, separadas das suas famílias, privadas de um futuro com dignidade. Vamos pedir contas a quem deste barbaridade que está instituída e, por isso, aceite como um caminho de solução quando os problemas são grandes ou quando as ganâncias de ter e de poder são desmedidas?
O mundo, e quem nele tem poder de decisão, deve pôr a mão na consciência e perguntar porque é que ainda não se encontraram alternativas à guerra? Talvez as grandes empresas que fabricam armas e exercem influência sobre os governos tenham uma palavra a dizer-nos.»

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sábado, 21 de agosto de 2010

As Prisões: Condenação ou Redenção


Os muros das prisões delimitam um mundo que nos é muitas vezes estranho e desconhecido. Sabemos que aqueles que ocupam estes espaços estão a cumprir penas resultantes de crimes cometidos. Mas as prisões não são apenas espaços de condenação. São também lugares de reflexão e transformação da vida e de promoção da dignidade humana.
Para nos falar melhor do mundo prisional e do trabalho que é feito com os presos, o Luso Fonias conta com o testemunho do Pe. Tiago Neto, capelão prisional.

Na opinião do P. Tony Neves:
«A prisão é uma instituição que não devia existir. Só por isso, já é má. Não devia existir, antes de mais, porque as pessoas deviam ser boas e nada fazer que justificasse o seu afastamento da sociedade que as viram crescer. Não deviam existir porque as sociedades onde se cometem crimes e ilegalidades deviam ter outros mecanismos para ajudar as pessoas a resolver problemas criados por atitudes negativas. Mas foi este o caminho que, ao longo da história, os diferentes governos escolheram para sancionar quem erra gravemente e, teoricamente, ajudar a recupera-los para uma vida mais de acordo com as leis. Digo ‘teoricamente’, porque a prática vais desmentindo esta finalidade dos estabelecimentos prisionais.
Tenho entrado em alguns centros de reclusão por questões pastorais. Em geral, o meu contacto com os reclusos é muito limitado, por imposições legais de segurança. Vou, sou todo revistado á entrada, ando sempre acompanhado de guardas, celebro as Eucaristias e pouco mais é permitido ali fazer. Há dias, tive a oportunidade de visitar uma prisão e contactar alguns dos reclusos numa conferência seguida de debate, aberta apenas a alguns dos detidos nesse estabelecimento prisional. Foi muito interessante o debate que mostrou as preocupações destes jovens e menos jovens que, numa curva da vida, foram parar atrás das grades. Lia-se nas entrelinhas das suas intervenções a vontade de reabilitar as suas vidas e as suas dolorosas histórias pessoais. Deu para entender que a sua chegada á prisão foi resultado de muitos dramas vividos, de muita exclusão social experimentada.
Com frequência se diz que a prisão não reabilita, antes refina a maldade, a ponto de muitos que lá estão, cometerem crimes maiores quando um dia são libertados. Reflectir sobre a função social de uma prisão e fazer dela um espaço de reabilitação social e moral é um imperativo para qualquer ministério da justiça. As Igrejas e todas as forças vivas da sociedade civil devem aliar-se na busca de soluções para este problema. Uma sociedade que não resolve bem os seus problemas não pode querer ser segura nem justa, nem humana.»

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os Jovens: Voluntariado e Criatividade para o Desenvolvimento


Os jovens caracterizam-se pela sua criatividade e capacidade de abraçar novos projectos e desafios. Facilmente se empenham em causas que permitem transformar este mundo deixando-o um pouco melhor do que aquele que encontraram. Foi este o desafio que Baden-Powell, fundador do Escutismo, deixou aos jovens daquele que é hoje o maior movimento juvenil nacional e um dos maiores em todo o mundo. O Escutismo é uma escola de vida e apresenta às crianças, jovens e adultos uma proposta de formação que pode de facto transformar as suas vidas.
Para nos falar melhor sobre o Escutismo , o Luso Fonias conta com a presença de Pedro Duarte Silva, Secretário Nacional Pedagógico do CNE – Corpo Nacional de Escutas.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Agosto é um mês que potencia muitas intervenções dos jovens em termos de cidadania, solidariedade social e apoio ao desenvolvimento de povos e países mais pobres. Só para focar em voluntariado missionário, indico os números apontados pela Fundação Evangelização e Culturas para este verão: 360 jovens partiram para África e América Latina com o objectivo de fazer uma experiência missionária de intervenção na área do apoio ao desenvolvimento e para interagir com outros jovens e as populações em geral, partindo com a certeza de que vão dar o seu melhor, mas vão regressar mais ricos do que partiram. Levam na bagagem ideias muito criativas e originais de iniciativas que pretendem gerar sintonias e simpatias, dando uma pequenina colaboração na construção de sociedades mais marcadas pelo desenvolvimento, pela justiça e pela paz. São projectos com muita utopia à mistura, mas que vão dando alguns resultados e, sobretudo, vão construindo pontes entre pessoas, grupos e povos.
Se é verdade que muitos dos projectos de voluntariado não conduzem a resultados palpáveis, outros mostram obra feita. Recordo, a título de exemplo, as muitas escolas, centros de saúde, lares, internatos, bibliotecas... que são construídos por Associações e Movimentos juvenis e que constituem um factor importante para o desenvolvimento de muitas comunidades, sobretudo na África.
Ao falar de desenvolvimento, queria fazer uma focagem no lado humano, pois, vulgarmente, associa-se mais à dimensão tecnológica. Estou a terminar uma experiência missionária com jovens no norte de Portugal. Privilegiamos algumas frentes de intervenção: actividades de tempos livres com crianças que não puderam sair das suas aldeias em tempo de férias; encontro e animação de idosos em lares de terceira idade; visitas a um estabelecimento prisional. Não construímos nenhuma casa nem andamos a limpar florestas; não ministramos nenhum curso de informática ou de música. Mas estamos com as pessoas, falamos com elas, ouvimos as suas histórias, rezamos com elas, partilhamos o que somos e o que sabemos...e todos estamos a ficar mais ricos. Os jovens, nas avaliações, vão confessando o quanto estão a crescer em humanidade e cidadania.
Há que investir em todas as frentes que permitem aos jovens crescer e ajudar outros a crescer com eles.»

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A cultura e as tradições dos povos indígenas















No coração da Amazónia bem como em muitas outras zonas mais interiores do globo continuam nos dias de hoje a existir inúmeras comunidades indígenas. Muitas vezes ameaçadas pela cultura contemporânea do imediatismo e do facilitismo, estes povos são portadores e zeladores de culturas ancestrais e partilham saberes e tradições que nos interpelam e cativam. Na sua simplicidade de vida encontram a alegria de viver em comunidade e de se relacionarem de forma vital com a natureza.
Para nos falar um pouco sobre estes povos, o Luso Fonias conta com o testemunho do Arcebispo de Manaus e também Vice-Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Luiz Soares Vieira.










Na opinião do P. Tony Neves:




«Os missionários da Consolata vivem há muitos anos com os povos indígenas ‘Raposa Serra do Sol’. Com eles lutaram anos a fio para garantir do Governo a demarcação das terras indígenas que estavam a ser ocupadas. Ganharam a causa e, a 19 de Abril, dia Nacional do Índio no Brasil, Maturuca, uma aldeia que simboliza 34 anos de luta, foi o local escolhido para festejar a demarcação das terras indígenas da Raposa Serra do Sol. No coração da área indígena, no estado do Roraima, norte do Brasil, faz fronteira com a Venezuela e a Guiana. Ponto alto da celebração foi a visita do presidente Lula da Silva. Animação, alegria, música e actividades culturais encheram seis dias de grande festa – como contam as enviadas especiais da revista Fátima Missionária.
Hoje, a Raposa Serra do Sol é uma terra indígena, com 1,7 milhão de hectares, homologada, demarcada e registada pelo Supremo Tribunal Federal. Constitui uma área contínua, reservada aos povos indígenas.
Muitas pessoas ligadas a esta causa passaram por Maturuca, entre elas vários missionários da Consolata. Actual­mente dois portugueses moram em Maturuca e acompanham a caminhada dos índios: os padres Mário Campos e José Marçal.
A única escola indígena que existe em Maturuca ensina a língua macuxi e portuguesa, para que aquela não caia no esquecimento. A escola é dedicada a José Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata. Maturuca foi o local escolhido para o encontro que Lula da Silva manteve com os líderes índios. Esteve presente Jacir José de Souza, chefe dos tuxauas e grande lutador desde o início da demarcação das terras. A ele se deve a fundação do Conselho Indígena de Roraima (CIR), em 1977 – dizem ainda as repórteres idas de Portugal para participar neste evento.
Escolhi este exemplo para evocar a importância do respeito de todos os povos indígenas que, com a sua ligação à terra e á tradição, nos obrigam a poisar bem os pés no chão, a beber nas fontes das nossas origens, a perceber que o futuro está nas raízes. Sem pararmos no tempo, há que perceber que a natureza é mãe, que a comunidade é muito importante, que não nos podemos desligar da nossa história. Nos tempos que correm, a sociedade globalizada perdeu as referências ás raízes, esmagou as culturas locais, destruiu as raízes tradicionais comunitárias e está a pagar preços elevadíssimos por tudo isso.

Sem parar no tempo, respeitemos os povos e as culturas que não querem viver ao ritmo alucinante dos tempos que correm e preservemos os valores da família alargada e da sã convivência com a natureza.»







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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

IX Encontro dos Bispos Lusófonos














No início deste mês de Julho, reuniram-se em São Tomé e Príncipe, os Bispos representantes das Conferências Episcopais dos Países Lusófonos. Este é já o nono encontro que este ano teve como tema “A acção da Igreja na luta contra a pobreza nos países lusófonos”.
Para nos falar sobre esta iniciativa, o Luso Fonias de hoje conta com o testemunho do Padre José Maia, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Evangelização e Culturas, entidade promotora deste encontro.










Na opinião do P. Tony Neves:




«A tradição já vem de longe e os Bispos que representam os países lusófonos encontraram-se, mais uma vez. A Ilha de S. Tomé foi o local escolhido para receber o evento, de 2 a 9 de Julho, que contou com os representantes máximos das Igrejas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor.
É bom que se saiba que, ainda antes de existir a Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), já os Bispos lusófonos se reuniam. O objectivo era partilhar experiências de pastoral e formas de intervenção na vida do dia a dia das populações destes países que falam português e estão espalhados pelo mundo inteiro.
Une estas Igrejas uma longa história comum e a língua oficial. E mais: do tempo que houve uma Igreja Mãe (Portugal) e muitas Igrejas filhas (todas as outras) passamos para uma nova era onde temos apenas e só Igrejas Irmãs. E nesta fraternidade carimbada com o selo do Evangelho, os compromissos são os mesmos: tornar o mundo mais fraterno e mais humano, anunciando a Boa Nova de Jesus Cristo, organizando as comunidades e animando-as. Assim, em Macau como em Brasília, testemunhar o Evangelho de Cristo é desafio comum.
Não é fácil medir resultados. Mas, por exemplo, no que diz respeito a uma maior partilha de agentes de pastoral (Padres, irmãs e Leigos), é visível o caminho feito. Também é notável a partilha económica entre Igrejas com mais capacidade financeira e outras com reais dificuldades económicas para formar os seus agentes de pastoral e cumprir a sua missão.
Há gestos que falam alto. Por exemplo, quando o Papa veio a Portugal, todas as Igrejas lusófonas foram convidadas e estiveram representadas. Este e outros sinais visíveis mostram o caminho já realizado e a comunhão que existe no espaço lusófono.
Sem querer forçar resultados palpáveis, faz sentido continuar a construir pontes entre estas Igrejas que rezam em Português e trabalham no espaço lusófono.»







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