sábado, 30 de outubro de 2010

A Crise Económica


Desde 2007 que se fala na crise, que teve início nos Estados Unidos e rapidamente se espalhou à Europa. Da redução de actividade no sector imobiliário ao aumento do desemprego, várias foram as consequências deste fenómeno, ao qual os Governos tentam responder com cortes orçamentais e aumento de impostos. Mas esta fase pior da economia pode ser também um desafio a pensarmos novos padrões de consumo que não passem pelo endividamento excessivo.
Para nos explicar os contornos da crise actual, o Luso Fonias conta com a participação de Carlos Almeida Andrade, economista-chefe do Banco Espírito Santo.

Na opinião do P. Tony Neves:

«Crise é uma espécie de palavra mágica, usada sempre que a vida não corre bem. É uma palavra que está na moda, ocupando largos espaços nos discursos dos políticos e nas bocas da comunicação social. Foi a 24 de Outubro de 2008 que o mundo inteiro viveu um pesadelo: a ‘sexta feira negra’, que marcou o início da Crise do Crédito, considerada pelos especialistas como a maior crise económica mundial desde a grande depressão do início do século XX. Dai para cá, nunca mais a economia do mundo se ergueu e os terríveis efeitos desta crise estão a vitimar sobretudo os mais pobres.
Mas nem todos estão de braços cruzados. Recordo, por exemplo, que o Cardeal Patriarca de Lisboa, a 17 de Abril de 2009 convocou mais de duas centenas de sacerdotes e leigos das Instituições de Caridade, para lançar o Projecto ‘A Igreja Solidária’, que visava encontrar respostas concretas para a crise, potenciando todas as instituições da Igreja para que ninguém passasse sem as condições mínimas necessárias a uma vida digna. Este Projecto desenvolver-se-ia em três fases: 1ª fase: procurar que a ninguém falte o “pão para a boca”; 2ª fase: ajudar a criar postos de trabalho e “ocupação” para desempregados; 3ª fase: criar uma rede de equipamentos para pessoas idosas. D. José Policarpo, na conclusão da reunião, disse aos presentes que uma coisa a Igreja pode fazer bem feita: acolher as pessoas.
O Simpósio ‘Reinventar a Solidariedade’, que juntou mais de mil pessoas na FIL, em Lisboa, a 15 de Maio de 2009, foi o pretexto para uma reflexão e partilha sobre as raízes da situação em que vivia Portugal (e o mundo) e a procura de caminhos novos que voltem a ‘inventar’ a solidariedade.
Na hora de concluir, disse-se: A lógica de uma civilização do ‘ter’ tem de ceder o lugar a uma civilização do ‘ser’. Há que construir um novo modelo civilizacional onde a lógica não seja a da abundância, com os pobres a comer as migalhas que caem da mesa dos ricos.
A actual crise é política, civilizacional, ética, moral e espiritual. Por isso, a solução não é económica. Há que, como disse o Cardeal Maradiaga, combater uma forma de estar no mundo onde a ganância coloca à margem da história muitas pessoas e está a produzir a exclusão.

Um ano e meio depois, olhamos para o mundo e vemos que a crise se agudiza. É, por isso, urgente atacar as suas causas, para construirmos uma sociedade onde nos apeteça viver».

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sábado, 23 de outubro de 2010

Voluntariado Jovem


Ao constatar que havia um grande potencial de participação dos jovens nas suas comunidades que não estava a ser utilizado, a organização não governamental Tese lançou este ano o projecto Do Something, que procura juntar as necessidades de várias instituições à disponibilidade dos jovens para ajudarem na sua comunidade. Com base numa página de internet, este projecto tem motivado muitos jovens a tornarem-se cidadãos mais activos através do voluntariado.
Para nos explicar em que consiste o projecto Do Something, o Luso Fonias conta com a participação de Virgílio Varela, Coordenador do projecto.

Na opinião do P. Tony Neves:

«Trata-se, a meu ver, da Revolução mais silenciosa que se opera na Igreja em Portugal nos últimos 20 anos. Refiro-me ao Voluntariado Missionário. Foi em 1988 que um grupo de Jovens Sem Fronteiras foi enviado ao interior da Guiné-Bissau para cavar os alicerces da Escola Sem Fronteiras de Caio – Tubebe, no meio da etnia manjaca. Foi uma experiência de interacção com as populações com quem partilharam dias felizes e iniciaram uma relação missionária que se mantém ainda hoje, aprofundada com a construção posterior das Missões dos Espiritanos e das Espiritanas e com a ampliação da Escola. Foi nesse mesmo ano de 1988 que o primeiro grupo de Leigos para o Desenvolvimento montaram a sua tenda em terras de S. Tomé e Príncipe para nunca mais de lá saírem. E depois partiram para Moçambique, para Timor, para Angola.
Acho que o Voluntariado Missionário é uma revolução na missão da Igreja por diversas razões. A primeira é porque se dá um legítimo protagonismo aos leigos que também têm o direito (e o dever) de partir para aquelas que foram chamadas as ‘linhas da frente da Missão’, outrora um exclusivo para membros consagrados de Institutos Missionários; o voluntariado missionário está a fazer uma revolução na Igreja porque envolve maias as famílias, as sociedades e as comunidades paroquiais. Quando partia o padre ou a Irmã, quase só o Instituto e os familiares directos davam por isso. Hoje, com a partida de leigos, as famílias sentem-se envolvidas, umas apoiam e outras colocam dificuldades, mas o certo é que ninguém fica indiferente. E – talvez o mais significativo – na hora do regresso, a partilha do testemunho e o envolvimento de familiares e amigos em projectos, faz com que a missão fique mais próxima das pessoas. O anúncio deste Evangelho libertador de todas as formas de opressão ganha um impacto mais forte quando os leigos se envolvem de alma e coração e levam para a missão o que sabem fazer e a fé que lhes vai no coração.
O Voluntariado Missionário é, na actualidade, um dos rostos mais visíveis da intervenção criativa da Igreja na evangelização, sobretudo com a participação dos jovens. Hoje há cerca de 40 instituições que preparam, enviam e acolhem no regresso Leigos (jovens e menos jovens) que partem em Missão. A Fundação Evangelização e Culturas revelou que, este verão, partiram 360 Leigos para a Missão lá fora. E foram muitos mais os que fizeram Missão cá dentro.
Há uma nova onda missionária que não rebenta com a antiga, mas ajuda a aumentar o dinamismo no mar da Missão hoje».

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sábado, 16 de outubro de 2010

Rede Fé e Desenvolvimento


Com base na Doutrina Social da Igreja, que incita à participação na transformação do mundo, a Fundação Evangelização e Culturas criou em 2009 a Rede Fé e Desenvolvimento. Esta Rede tem trabalhado com várias dioceses e movimentos da Igreja Católica, promovendo uma reflexão sobre os temas do Desenvolvimento e mobilizando esses grupos para serem mais activos na discussão de problemas globais, como o cumprimento dos Objectivos do Milénio ou as alterações climáticas.
Para nos explicar em que consiste a Rede Fé e Desenvolvimento, o Luso Fonias conta com a participação de Margarida Alvim, Coordenadora da Rede.

Na opinião do P. Tony Neves:

«A Rede Fé e Desenvolvimento nasceu para ajudar a Igreja e a sociedade a perceber a importância dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM) em que os Governos sem comprometem a reduzir a pobreza do mundo para metade até 2015. Trata-se de um projecto apoiado pela Campanha do Milénio das Nações Unidas, que pretende sensibilizar e mobilizar a Igreja Católica para as questões do desenvolvimento, actuando no mundo e em diálogo com as outras confissões religiosas e restante sociedade civil. Uma das últimas iniciativas foi a de acompanhar por dentro a Cimeira da ONU para a avaliação dos ODM, que se realizou em Nova Iorque a 27 e 28 de Setembro.
A Margarida Alvim, que coordena esta Rede criada no âmbito da Fundação Evangelização e Culturas, aceitou esta missão como um desafio, como explicou: ‘este trabalho contribui, mais uma vez, muito para o meu próprio desenvolvimento, como cidadã e como crente. Só tenho a agradecer a Deus e à FEC esta oportunidade. A Rede Fé e Desenvolvimento transporta-me para o Mundo’.
Trabalhar em Rede é hoje um imperativo. Ninguém faz nada sozinho e os problemas do mundo têm tal dimensão que só unindo esforços e corações se podem tentar resolver. Por isso, a Margarida Alvim acredita que a missão da Rede Fé e Desenvolvimento lança desafios à Igreja: ‘Ela deve ter uma voz mais activa e forte no exercício da sua cidadania. Porque tem autoridade para o fazer, porque faz parte da sua Missão e porque como crentes, temos a obrigação acrescida de intervir na construção de uma sociedade mais justa, e isso passa pelo acompanhamento das políticas, pela acção, pela sensibilização, pelo desmascarar injustiças, pelo fazer pontes’.
Percebemos, pelos resultados da Cimeira, que a Pobreza ainda está para durar e o objectivo de acabar com metade até 2015 será mais miragem que concretização. Mas não é tempo de cruzar os braços porque o grito dos pobres continua a ecoar bem alto e bem fundo nos nossos ouvidos de pessoas marados com o carimbo do Evangelho que nos obriga a partir ao encontro dos mais pobres».

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sábado, 9 de outubro de 2010

Cooperação Intermunicipal


Há vários anos que se estabeleceram laços de cooperação e partilha de recursos e experiências entre municípios de Portugal e dos países lusófonos. Desta cooperação nasceram vários projectos de construção de infra-estruturas, apoio à educação e à saúde, ou formação de técnicos municipais. É também uma forma de integração das populações imigrantes presentes em Portugal, que assim estreitam laços com os seus países de origem e vêm a sua cultura valorizada.
Para nos falar sobre a cooperação estabelecida entre municípios de Portugal e dos países africanos de língua portuguesa, o Luso Fonias conta com a participação da Vereadora Corália Loureiro, da Câmara Municipal do Seixal, que comemora 20 anos de cooperação com o município caboverdiano da Boa Vista.

Na opinião do P. Tony Neves:

«Criar laços, construir pontes... são sempre objectivos em que vale a pena apostar. Isso pode dar-se entre todos os países (ONU), entre alguns países (União Europeia, União Africana...), entre Dioceses (por exemplo, entre Leiria-Fátima e Sumbe (Angola), entre Paróquias e entre Municípios. É sobretudo destes laços que gostaria de reflectir hoje.
Há diversas câmaras municipais de Portugal que estão geminadas com Municípios de outros países do espaço lusófono. Une-as as afinidades entre povos que falam a mesma língua e partilham história e cultura. Estas afinidades são decisivas para que outros projectos de parceria possam ser pensados e implementados.
Não há dois municípios iguais, pelo que as geminações têm todas a marca da originalidade que caracteriza cada terra e cada povo. Algumas vezes, um dos Municípios está a passar por um período mais complicado da sua história e a geminação pode ajudar a resolver problemas, seja no âmbito da saúde, da educação ou de âmbito social. Outras vezes, a geminação é pretexto para intercâmbio de pessoas que aproveitam a oportunidade para partilhar culturas e experiências diversificadas que a todos enriquecem. Não se podem perder oportunidades de aproximar povos e culturas, dando uma pequena contribuição para que expressões como ‘fraternidade universal’ não apareçam só em dicionários e enciclopédias.
Se todos os lusófonos fizessem mais esforço em gerar sintonias com quantos partilham a língua, parte da história e da cultura, ganharíamos um estatuto diferente à escala do mundo. Somos muitos milhões, mas precisamos de ser mais irmãos. Que o projecto Enlaces, que quer promover mais cidadania e desenvolvimento, mais partilha e encontro dentro do espaço lusófono, seja mais conhecido e mais vivido. Toda a lusofonia, todos os lusófonos vamos ficar mais ricos».

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sábado, 2 de outubro de 2010

A arte de ensinar


Ensinar é sempre um desafio. A responsabilidade de transmitir saberes e conhecimentos é desde há muitos séculos uma preocupação da humanidade. Existe todo um património que se deseja perpetuar mas existe também a necessidade de investigar novos saberes e descobrir novas matérias. Desde modo, o ensino é sempre uma janela aberta para novas oportunidades. Para nos falar sobre esta arte de ensinar no contexto mais geral da cooperação e do desenvolvimento, o Luso Fonias conta com a participação do Presidente do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, o Professor Manuel Correia.

Na opinião do P. Tony Neves:

«Tempos houve em que ser professor era algo que trazia muito prestígio. Lembrava o meu avô que, no tempo da sua infância, a terra tinha três pessoas importantes: o padre, o professor e o doutor. Os tempos mudaram muito de então para cá e ser professor hoje traz mais chatices que louros. Dos tempos em que a disciplina numa sala de aulas era sagrada e a obediência aos professores era intocável, chagamos a uma época em que crianças e jovens quase não obedecem a ninguém e alguns pais até vão questionar os professores quando estes quiserem impor alguma disciplina aos seus filhos. Isto para já não falar de alunos que exercem violência física sobre professores....
Mas no Dia Internacional do Professor não queria falar muito dos dramas que hoje se vive na escola. É bom olhar para o lado mais positivo e para o papel fundamental que a escola continua a exercer na sociedade.
Há que investir ainda mais na formação dos professores que os leve a sentir-se em casa quando estão diante dos seus alunos. Bem formados, motivados, vocacionados para leccionar, os professores conseguirão melhor atrair a atenção dos mais jovens e fazer caminhada pedagógica com eles.
Há um dado relativamente novo no panorama europeu do ensino superior que gostava de referir hoje: o programa Erasmus. Assim, durante o curso superior, há milhares de jovens europeus que deixam a sua universidade e o seu país e fazem um ano lectivo numa outra universidade e noutro país, com outros colegas e noutro contexto cultural. Há quem aproveite bem esta oportunidade para rasgar novos horizontes, conhecer novas pessoas e culturas, agarrar novos mercados de trabalho.
A Educação tem de mudar: nos alunos e nos professores. Há que construir uma mentalidade académica baseada na convicção de que a Escola é decisiva para o futuro das pessoas e dos povos. Quando percebermos isto, tudo o resto se resolverá. Há que dignificar a Escola, em nome de uma educação humana integral».

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