sábado, 29 de setembro de 2007

120 Presentes Solidários para São Tomé e Príncipe

Presente escolhido: 1 chapa de zinco

Número de presentes: 120

Parceiro local: Instituto Missionário São João de Eudes

Região: Ilha do Príncipe



Em São Tomé e Príncipe, o presente escolhido foram chapas de zinco. Com as 120 que foram recolhidas, foi possível ajudar a arranjar casas de famílias mais carenciadas, conforme nos conta o Padre Daniel, do Instituto Missionário São João de Eudes, parceiro da FEC.




«A Ilha do Príncipe é uma minúscula ilha de 5000 habitantes pertencente ao arquipélago de São Tomé e Príncipe, o segundo país mais pequeno de África. Os seus habitantes residem numa pequenina povoação, a que chamam "cidade" de Santo António e num punhado de "roças" (antigas propriedades agrícolas). Abundam as crianças e os idosos, enquanto as pessoas em "idade activa" se vêem obrigadas a emigrar, já que as perspectivas de emprego são quase inexistentes.

Situado na linha do Equador, São Tomé apresenta dos maiores índices de humidade e pluviosidade do mundo. Por isso mesmo, a degradação das casas é muito rápida, apodrecendo a madeira e enferrujando tudo o que é metal. Na Ilha do Príncipe as casas das pessoas mais humildes são feitas em madeira e cobertas a chapas de zinco. Ao contrário das tábuas e barrotes que se cortam das árvores da Ilha, as chapas são importadas e vendidas no Príncipe a 200.000 dobras cada uma, o equivalente a um terço do ordenado mensal de um professor ou a dois meses de reforma de um idoso. Uma casa pequena leva, pelo menos, 20 chapas.

Desde que chegaram à Ilha do Príncipe, vindos directamente da Colômbia, o padre Manuel e os três jovens irmãos têm procurado ajudar os mais pobres (principalmente os idosos) melhorando as condições de habitabilidade de suas casas. O Príncipe está cheio de pessoas idosas, principalmente cabo-verdianos sem família que vivem em condições deploráveis. As chapas oferecidas tornam possível um trabalho completo, quando até agora era só parcial, pois continuava a chover dentro das casas.

Dois exemplos de onde as chapas foram aplicadas:



1. O senhor Alexandre é idoso, viúvo e sem filhos. Vive numa casa muito degradada na cidade de Santo António. No tempo colonial foi um excelente profissional de carpintaria e serralharia. Mesmo agora, já idoso e com falta de vista, ainda tem muito para dar e, principalmente, ensinar.

Nestes dias, com o apoio das chapas oferecidas, a sua casa foi totalmente recuperada, o telhado em parte substituído e construído um telheiro que lhe irá servir de oficina. A ferramenta, por ele zelosamente guardada, permite-lhe começar imediatamente a trabalhar. Mesmo ao lado, alguns jovens montaram a sua própria marcenaria, contando com a ajuda e a experiência do "mestre" Alexandre, com quem aprendem o ofício.

Com tão pouco, o senhor Alexandre sente-se reviver e está feliz: só agora pode mostrar aquilo de que ainda é capaz.



2. O senhor Xico é um excelente alfaiate e com uma máquina de costura velha e ferrugenta e um ferro a carvão faz autênticos milagres de costura. Em tempos, a vida corria-lhe bem. Tinha casa aberta na cidade e trabalho não lhe faltava. Eram muitas as pessoas importantes da Ilha que lhe encomendavam fatos à medida para as festas e para os acontecimentos sociais mais importantes.

Recentemente, abateu-se sobre ele a maior das desgraças que pode acontecer a um idoso: por ignorância ou superstição ou, o que é mais grave, por inveja ou vingança, alguém pôs a correr o boato de que o senhor Xico era feiticeiro. É frequente este estigma recair sobre os idosos de São Tomé e Príncipe, principalmente quando apresentam alguma característica que os diferencia da maioria: não terem filhos, terem uma idade muito avançada, apresentarem alguma característica física especial, apresentarem alguma debilidade mental, etc. Quando alguém é acusado de feitiçaria, fica como que banida da sociedade e todos procuram manter-se afastados dele. Só resta o caminho do isolamento. Apesar da constante condenação destas atitudes por parte do bispo e missionários de São Tomé, a pratica parece que veio para ficar, até entre pessoas com elevada instrução.

Sem clientes e ostracizado, o senhor Xico fez, então, a única coisa possível: fechou a alfaiataria e foi morar com a mulher e o filho para uma barraca muito degradada no meio do mato perto da Roça do Picão. Vive daquilo que consegue cultivar e de alguns (poucos) trabalhos de costura que ainda lhe vão encomendando.

Com a chegada das chapas, procedeu-se à construção de uma nova sala da casa onde passará a funcionar a alfaiataria. Os missionários esperam que os raros visitantes estrangeiros e alguns amigos do exterior possam encomendar algumas vestes típicas africanas ao senhor Xico, para que a sua vida retome a possível normalidade».




Pe Daniel Henriques

Pároco de Algés e presidente da Associação Pagué – Intervenção Social na Ilha do Príncipe


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