domingo, 18 de janeiro de 2009

As bengalas da sociedade

O Luso Fonias dedicou a emissão de 3 de Janeiro, a primeira de 2009, às pessoas portadoras de Humberto Santosdeficiência.


A 4 de Janeiro comemora-se o Dia Mundial do Braille, uma celebração que nos fez reflectir sobre as barreiras e soluções que a sociedade apresenta às pessoas com limitações físicas. Não nos podemos esquecer que as pessoas com deficiência gozam dos mesmos direitos fundamentais que os restantes cidadãos, conforme estabelece o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Para nos falar dos apoios e obstáculos que se apresentam diariamente a um cidadão portador de deficiência, esteve na nossa companhia o Dr. Humberto Santos, Presidente da Associação Portuguesa de Deficientes.





Na opinião do P. Tony Neves:


«Até parece que ninguém consegue andar sem bengalas! Não me refiro, concretamente, àquelas pernas alternativas que utilizamos quando as nossas nos falham. Refiro-me, sim, a alguns apoios a que nos vamos agarrando para nos seguramos à vida no nosso quotidiano.


Há que dizer que estas bengalas não são as mesmas para toda a gente, mas há algumas que são comuns a muitas pessoas, diria mesmo, à sociedade em geral. Uma delas é a segurança: todos nos arrepiamos com a diminuição do número de polícias nas ruas, com o aumento de gente desconhecida nos círculos onde nos movemos, com a possibilidade de sermos intoxicados com alimentos fora de prazo ou mal conservados, com alguma fissura nas pontes e viadutos por onde passamos… enfim, sem segurança máxima não vivemos com a paz mínima, por isso, mesmo, este é um discurso que agrada aos políticos.


Outra bengala é a do pleno emprego: todos sentimos que é fundamental encontrar um trabalho. Infelizmente, poucos pensamos na ideia de nos realizarmos com ele ou de prestarmos um serviço público à comunidade. Pensamos, sim, em algo que dê dinheiro, limpo de impostos e taxas, de preferência. Assim, mantemos a nossa independência.
Há ainda que referir, na minha opinião, a compensação afectiva: todos queremos ter, em todos os momentos, alguém que esteja a nosso lado e que não permita vazios afectivos. Seja lá quem for e mesmo que hoje tenhamos um e amanhã outro… O vazio afectivo e emocional é que não pode ter lugar na nossa vida.


Falei só de caricaturas de opções e práticas. Sim, porque as bengalas são sempre tristes remedeios. Se falássemos em esteios, em alicerces… aí as coisas eram bem diferentes e bem melhores. E falaria também de segurança (aquele princípio que dá estabilidade e sentido à vida), falaria de emprego (aquele trabalho que vem na linha dos meus talentos, me realiza como pessoa e presta um serviço à sociedade). Falaria também da afectividade, da ternura e do amor, como valores máximos do relacionamento humano…


Desculpem-me a franqueza: a sociedade não precisa de bengalas, mas de alicerces e esteios que dêem consistência, segurança, realização e felicidade às pessoas. Não só a algumas, mas a todas.


Desejo um excelente 2009, alicerçado na Paz, na Justiça e no Amor.»







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