terça-feira, 26 de junho de 2007

Vícios: teimosia ou ignorância?

O Luso Fonias de 24 de Junho esteve à conversa sobre “Vícios: teimosia ou ignorância?”, um tema que surgiu a propósito do Dia Internacional de Luta contra o Abuso e Tráfico de Droga (26 de Junho), mas que teve o objectivo de falar também sobre outros vícios, como o álcool, tabaco e comida.

Normalmente definimos vício como um mau hábito que teimamos em prosseguir, algo que prejudica a nossa saúde. Na maior parte das vezes temos consciência disso, mas achamos que vale a pena correr o risco pela sensação de bem-estar que nos proporciona. Será que são mesmo vícios, algo que só com muita dificuldade conseguimos largar, ou são apenas teimosias? Será que os vícios são uma dependência física e psíquica ou são apenas uma falta de vontade e ignorância relativamente aos seus malefícios?

Para esclarecer estas e outras questões, estivemos à conversa com o Professor Doutor Daniel Serrão, Professor Catedrático Jubilado de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Membro do Comité Director de Bioética.



Segue a opinião do Pe. Tony Neves:

«A 26 de Junho, o mundo inteiro celebra o Dia Internacional de Luta contra o abuso e tráfico de droga. A luta contra as dependências com efeitos sociais tem surtido alguns efeitos, embora os ditos ‘vícios’ não sejam iguais nas consequências que trazem e nas dependências que criam. A luta contra o tabaco, por exemplo, tem sido muito branda porque se julga que a grande vítima é o fumador. Os Estados penalizam o tabaco pelos impostos que lhe aplicam e pelas restrições, em termos de área, aos fumadores. Assim, é quase consensual que não se deve fumar em recintos públicos fechados, em transportes, etc. Mas também começa a crescer o número dos que julgam que os fumadores deveriam ser punidos porque provocam doenças em fumadores passivos, ou seja, naqueles que estão perto dos fumadores e apanham os efeitos do fumo.

A questão do álcool é igualmente preocupante pelos efeitos que provoca. Hoje assume-se com naturalidade que boa parte da violência doméstica é praticada quando as pessoas estão sob o efeito do álcool. E, no que diz respeito a acidentes na estrada, a percentagem dos que acontecem sob efeito do álcool é ainda mais elevada. Por isso, há que prevenir pela educação e pelo acompanhamento, uma utilização correcta das bebidas alcoólicas.

A droga, seja ela mais leve ou mais dura, é assunto muito sério à escala do mundo. As polícias falam sempre de uma luta sem tréguas ao narcotráfico, mas, na hora da verdade, os números falam alto das quantidades de drogas consumidas e dos efeitos dramáticos sobre as pessoas toxicodependentes e sobre as suas famílias. As sociedades têm de encontrar soluções para estes problemas.

A dependência destes vícios é resultante da ignorância? Poderá ser, em alguns casos. Mas, na maioria resulta da conjugação perfeita de dois factores: a debilidade e falta de sentido para a vida por parte de quem se deixa entrar nesta teia donde dificilmente sairá; a ganância de lucro fácil e a qualquer preço por parte dos grandes traficantes. Há que investir nas duas frentes: dar sentido à vida e capacidade de resistir a quem possa ser a próxima vítima dos traficantes; manter uma luta sem tréguas ao narcotráfico e aos interesses aí instalados. Sem estas duas frentes, a batalha contra a droga não terá vencedores: só vencidos.»




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